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A EXCLUSÃO SOCIAL DOS ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO PÚBLICA:PESTE EMOCIONAL DA SOCIEDADE CAPITALISTA

Katiana Pinto dos Santos

Sandra Mara Dall’Igna Volp

RESUMO

O propósito desse trabalho é oportunizar uma reflexão sobre a exclusão social dos estudantes da educação pública, como sendo uma das manifestações da Peste emocional, termo criado por Reich (1989). Além disso, explicar sucintamente segundo Reich (1989), qual o significado do conceito e manifestações sociais da Peste Emocional, estabelecendo uma relação com o narcisismo, que segundo Lowen (2021), é a base emocional da sociedade ocidental. Nesse sentido debater como a sociedade capitalista se “beneficia” com estimulação e a propagação ideológica do narcisismo e da Peste Emocional, na perspectiva de manter a acumulação da riqueza nas mãos de poucos e consequentemente perpetuar a miséria social.

Palavras-chave: Capitalismo. Emocional. Exclusão. Narcisismo. Peste.


A crise econômica internacional atinge duramente o Brasil. A economia brasileira está estagnada e em recessão. Estima-se que o país já conta com aproximadamente 14,4 milhões de desempregados, conforme os dados do The World Bank (2022). As políticas neoliberais no Brasil a partir da aprovação da PEC 55 no ano de 2016 restringem os gastos públicos por 20 anos. Na educação, saúde e assistência social que já havia um déficit histórico de investimentos, a situação tende a piorar, inviabilizando em parte o acesso e o atendimento das demandas das comunidades em situação de vulnerabilidade social nas grandes cidades.

Segundo Souza:

Isso significa criar um ambiente favorável para a acumulação de capital, um conjunto de leis permitam flexibilizar ao máximo o mundo do trabalho – leia-se retirar direitos sociais históricos dos trabalhadores, desonerar ou isentar de impostos, ao máximo possível, os empresários privados e transferir, por uma série de mecanismos, recursos públicos para o capital privado. (Souza 2009, p.111).

Os governos de todas as esferas (nacional, estadual e municipal) estão empenhados em adotar medidas recessivas e privatistas, como tentativa de reduzir gastos para conter a crise econômica do capital. As “reformas” são sinônimos de retirada de direitos. A reforma trabalhista modificou as relações de trabalho, introduziu o trabalho intermitente, onde o vínculo empregatício é ainda mais precário. A reforma da previdência aprovada em 2019 no Congresso Nacional aumentou a idade, alíquota e tempo de contribuição, e o valor das aposentadorias diminuiu.

Segundo Souza:

Mas não é o bastante transformar tudo em mercadoria – privatizar, no limite, todos os serviços públicos e a educação. O Estado neoliberal precisa estar diretamente a serviço do capital; garantir a retomada das taxas de lucro, que não pararam de cair, literalmente despencando entre 1947 e 1982, segundo os dados OCDE. (Souza 2009, p.111).

Além da crise econômica, evidencia-se a crise social e moral da sociedade. A polarização política na eleição presidencial entre os conservadores e os progressistas, acirrou os ânimos, sendo crescentes manifestações violentas do conservadorismo neofascista na sociedade brasileira. Diariamente as notícias e as declarações nas redes sociais denunciam atentados contra as liberdades coletivas, individuais, e da livre orientação sexual, destruição dos ecossistemas, o avanço do colonialismo, através da perseguição e morte dos povos originários e dos ativistas dos direitos humanos, crescem os ataques racistas contra o povo negro e seus coletivos, aumento da violência contra as mulheres, contras as pessoas LGBTQIA+ e a exclusão social, caracterizando tempos sombrios da nossa frágil “democracia”, sendo esses ataques à materialização da peste emocional em nossa sociedade.

Segundo Reich:

A esquizofrenia e o câncer são biopatias que podem ser consideradas resultantes da fúria da peste emocional na vida social. Os efeitos da peste emocional podem ser vistos no organismo humano, bem como na vida da sociedade. De vez em quando, ela transforma-se em epidemia, como qualquer outra doença contagiosa, como a peste bubônica ou a cólera. Explosões epidêmicas da peste emocional manifestam-se em irrupções violentas e gigantescas de sadismo e criminalidade, em pequena e grande escala. A Inquisição católica da Idade Média foi uma dessas explosões epidêmicas; o fascismo internacional do século XX é outra. (Reich 1989, p.447).

Nesse sentido, o debate sobre a peste emocional (Reich 1989) e o narcisismo (Lowen 2021) como sendo a base emocional do capitalismo é relevante e atual, para compreendermos em que conjuntura os sujeitos estão inseridos, e como o narcisismo e a peste emocional incentivada pela ideologia neoliberal e neofascista sabota as possibilidades dos sujeitos buscarem uma vida saudável, autorregulável, e estarem comprometidos com a construção de uma sociedade que promova e oportunize o bem-estar emocional e social para todos. Ao contrário do que acontece na sociedade capitalista em que o lucro está acima dos ecossistemas, da vida e do bem-estar das pessoas. Considero pertinente entender que para além da base material da sociedade, é importante entendermos a base emocional, que alicerça nos sujeitos as atrocidades cometidas, e como essas são legitimadas pelo senso comum social.

Segundo Reich:

Haveria contradição com a teoria marxista da consciência de classe se pensasse que as massas podem com facilidade ser puramente enganadas. Neste caso, trata-se manifestamente do seguinte problema considerável: qualquer organização social produz nas massas dos seus membros as estruturas de que necessita para os seus objetivos fundamentais. Sem essas estruturas, que a Psicologia de massa deve explorar a guerra não teria sido possível. (Reich 1974, p. 25).

A ideia central desse trabalho é oportunizar, na perspectiva da Psicologia Corporal, o debate como a exclusão social afeta diretamente a realidade das famílias dos estudantes da educação pública, tendo como consequência o encouraçamento e o adoecimento dos sujeitos.

Os estudantes da educação pública são os que na sociedade encontram-se em situação de vulnerabilidade social. Um número significativo de estudantes encontram-se marcados pelo abandono, descuido, abusos sexuais e morais, isto é, pela violência social e familiar desde o nascimento, sendo suas demandas físicas, emocionais e sociais negligenciadas pela família e pelo poder público. As situações traumáticas advindas da situação de vulnerabilidade social geram diversas patologias psicológicas, físicas, e emocionais.

Segundo Reich:

Não escondemos, hoje nem nunca, que só acreditaremos na realização da existência humana quando a biologia, psiquiatria e a pedagogia se unirem para lutar contra a peste emocional universal, combatendo-a tanto implacavelmente como se combate a peste bubônica. Nem escondemos o fato de que investigações clínicas extensas, cuidadosas e meticulosas nos levaram à conclusão de que só o restabelecimento da vida amorosa natural de criança, adolescentes e adultos pode expulsar do mundo as neuroses de caráter e, com elas a peste emocional em suas diversas formas. (Reich 1989, p.475).


A pandemia da COVID-19 intensificou essas problemáticas oriundas das desigualdades sociais. Trouxe o medo da morte, em função da perda de familiares, amigos e conhecidos. Estamos vivenciando no ano de 2022 o luto coletivo e o estresse pós-traumático dessa situação que atingiu a humanidade. Em decorrência dessa situação aumentaram as sequelas emocionais e físicas. Aliado a isso, ocorre a agudização da crise econômica e social, aumentando a vulnerabilidade emocional e social das comunidades periféricas das grandes cidades.

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Anísio Teixeira, na Zona Sul de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, evidencia-se um aumento crescente dos problemas da saúde mental/emocional. O isolamento social trouxe como consequência nos estudantes a dessocialização, isto é, defasagem nos comportamentos do convívio social aprendidos anteriormente na escola. Além disso, percebemos que as pessoas da comunidade escolar estão mais sensíveis emocionalmente, às pequenas diferenças passam a ser grandes, tendo como consequência o aumento da violência escolar manifestada em conflitos verbais e físicos entre estudantes e contra os professores, até mesmo entre as famílias dos estudantes.

Observamos um crescimento do bullying, do cyberbullying, das crises fóbicas, da ansiedade, da depressão, das ideações suicidas e dos mal-estares de diversas ordens como problemas gástricos, dores de cabeça e dores no corpo, caracterizando a somatização coletiva do processo traumático vivido. Cresceu os casos de abuso sexual e outras violações contra as crianças e adolescentes.

Retornamos ao "novo normal" ainda em pandemia, corpos ainda em processo de adaptação, porém não tivemos nenhum movimento por parte dos governos da inclusão de milhares de psicólogos, psiquiatras, terapeutas no Sistema Único de Saúde e Planos de Saúde, para dar conta da “nova epidemia da saúde mental”.

Infelizmente a nossa sociedade e governos ainda se pautam pela ruptura entre corpo e mente legado do racionalismo que necessitava de "corpos máquinas" seres humanos dissociados, produtivos, para atuar no sistema capitalista e assim serem mais “produtivos”. Nesse sentido relega o sofrimento emocional como não prioritário no destino das políticas públicas para minimizar os impactos emocionais da pandemia nas pessoas.

Segundo Lowen:

As pessoas são tão apressadas que não tem tempo para respirar ou ser. Ser custa tempo: tempo de respirar, tempo de sentir. Quando nos motivamos para produzir ou realizar coisas, tornamo-nos como máquinas e o nosso ser fica reduzido. Contudo, se prestarmos pelo menos tanta atenção ao processo quanto ao objetivo, o fazer torna-se uma ação criativa ou autoexpressiva, aumentando a sensação de ser. No que diz respeito a ser, o que vale não é o que a pessoa faz, mas como a pessoa faz. O inverso vale para o fazer. (Lowen 1986, p. 99).

No contexto de crise do capital os estudantes da educação pública são ensinados desde cedo a lutar para sobreviver em um mundo hostil, logo são ensinados a competir, a serem individualistas, favorecendo a construção de sujeitos sádicos, perversos e apartados de seu verdadeiro self, contribuindo para se tornarem autômatos a serviço do capital, garantindo a manutenção de um ciclo vicioso que perpetua as desigualdades sociais.

Considero relevante pontuar a peste emocional e o narcisismo como base emocional da sociedade capitalista, tendo em vista que observo dentro da Psicologia uma tendência a patologizar o sujeito, e descolá-lo da sociedade no qual está inserido, individualizando seu adoecimento. Entendo que existe uma relação dialética entre o sujeito e a sociedade. O sujeito atua e está condicionado a atuar pela cultura, valores, classe à qual pertence. Uma sociedade que prima pela acumulação da riqueza em detrimento da miséria de muitos, onde a vida e os ecossistemas são destruídos para enriquecer poucos, e as pessoas são utilizadas como peças dessa engrenagem, que destrói a vitalidade e os transformam em sujeitos autômatos. O debate sobre o narcisismo e a peste emocional nos ajuda entender os sujeitos na realidade atual.

Segundo Reich:

De um ponto de vista social, a posição da psicoterapia individual carece de esperança. O fato de ser precisamente este insight – o de que as neuroses são produzidas socialmente em grande escala – que leva a uma preocupação ainda mais minuciosa, ainda mais intensa, com os problemas da terapia individual pode até ser considerado um ardil, um dialético típico. Esforcei-me por demonstrar que as neuroses são resultado de uma educação familiar patriarcal e repressiva no que se refere a questões sexuais; que, além disso, o que interessa de fato é profilaxia das neuroses, o objetivo para cuja realização prática no moderno sistema social, falta todas as condições prévias; que, em suma, só a derrubada radical das instituições ideológicas sociais (derrubada que depende do êxito das lutas políticas do nosso século) criará as condições necessárias para uma ampla profilaxia das neuroses. (Reich 1989, p. 2-3).

Como disse Lowen (2021, p.17), o comportamento neurótico em qualquer sociedade e época reflete a ação das forças culturais. A cultura ocidental caracterizada pela competitividade, pragmatismo e o lucro acima da vida, estimula nos indivíduos a ruptura com a seu verdadeiro self. Os sujeitos identificam-se com um falso self, isto é, uma imagem idealizada de si mesmos, para atender as demandas externas de uma sociedade que projeta o humano como máquina, em detrimento do seu sentir. Mesmo que em relação à cultura vitoriana tenhamos avançado em vários aspectos tais como nas tecnologias, nas liberdades sexuais e no afrouxamento da vigilância moral e comportamental, ainda assim, não evoluímos para garantir o bem-estar geral das pessoas e suplantar a nossa desconexão da natureza, portanto estamos, enquanto espécie desconectada do nosso verdadeiro self, o que constitui o narcisismo como a neurose típica de nosso tempo.

Segundo Lowen:

Como disse Theodore I. Rubin, eminente psicanalista e escritor, “o narcisista torna-se o seu próprio mundo e acredita que todo o mundo é ele”. É certamente esse o quadro em linhas gerais. Otto Kernberg, também ilustre psicanalista, forneceu-nos uma observação mais minuciosa de personalidades narcisistas. Em suas palavras, os narcisistas “apresentam várias combinações de ambição intensa, fantasias de grandeza, sentimentos de inferioridade e excessiva dependência de admiração e aprovação externas”. Também características, em sua opinião, são “a incerteza crônica e a insatisfação consigo mesmos, a manipulação e a desumanidade conscientes ou inconscientes em relação ao outros”. (Lowen 2021, p.15).

A sociedade capitalista se beneficia em estimular a peste emocional e o narcisismo na sociedade, pois necessita construir sujeitos perversos, desconetados da sua verdadeira self, insensíveis, competitivos e crueis, que sejam capazes de ir para as guerras, destruir povos, a natureza e a si mesmo, de executar as ordens dos mandatários do poder, servindo aos propósitos do capital que é de subtrair recursos naturais de diferentes territórios para acumular riqueza. Uma triste realidade a ser superada pela humanidade.

Nesse sentido, a exclusão social dos estudantes da educação pública está a serviço dessa ordem sistêmica, gerar sujeitos desconectados de seu verdadeiro self, isto é, desconectado de si mesmo, e consequentemente da coletividade e da natureza, para ser usado como massa de manobra pelos governantes e elites para seus propósitos belicistas, colonialistas, extrativistas e de acumulação da riqueza, pois sem isso, não seria possível persuadir as amplas massas, de atuarem contra a suas próprias vidas.

Segundo Reich:

O imobilismo, o absorver forças e esperanças, o conhecimento silencioso de sua própria profundidade, absolutamente não são artifícios. Isso é estrutural. Isso é automático. Isso é consequência de uma natureza animal e ao mesmo tempo, imobilizado pela couraça. O povo age, o povo não filosofa sobre como age. Faz um mínimo necessário a sua sobrevivência. O povo é, por toda parte e sempre, a origem de todo o conservantismo. O líder conservador pode confiar em seus homens mais do que o líder que visa edificar um futuro melhor. O czar, o imperador, estão mais perto dos verdadeiros pensamentos do povo do que o profeta; mais perto do seu imobilismo. Os profetas só refletem os sonhos e esperanças silenciosos do povo. Está claro porque é o profeta e não o imperador que é morto. (Reich 1999, p.112-113)

A submissão imposta pelo capital às amplas massas, que a fazem agir contra a sua saúde emocional e física, lavando-as ao adoecimento e à morte, explica-se pelo grande aparato ideológico do sistema. As instituições da sociedade, tais como a família, a escola, a religião, meios de comunicação e outros, garantem à superestrutura moldar os sujeitos na sua concepção, para servir ao capital. O ritmo frenético da máquina capitalista que automatiza milhões de seres humanos para garantir a acumulação da riqueza são evidências que nos levam a questionar: Como romper esse imobilismo? Como romper coletivamente com as couraças que nos aprisionam? Como frear a barbárie em curso? Perguntas que nos remetem a muito trabalho em psicoterapia corporal em conexão com diferentes áreas do conhecimento da sociedade, para que coletivamente encontremos caminhos por dentro das estruturas que atuamos para rompermos com as práticas excludentes que destrói a vitalidade das pessoas e dos ecossistemas.

Assim sendo, isso não quer dizer que nos limitemos a apenas mapear os problemas, ou considerar que nada possa ser feito. Na nossa prática diária temos que subverter a reprodução das práticas excludentes, inerente à sociedade capitalista. Como profissional da orientação educacional na E.M.E.F Professor Anísio Teixeira, em Porto Alegre, e como estudante da Psicologia Corporal pressupõe que sejamos capazes de pesquisar a realidade dos estudantes, articular, mobilizar e atuar dentro da gestão escolar agregando os segmentos escolares, na perspectiva de propor, buscar parcerias, e ações pedagógicas adequadas às demandas emocionais dos estudantes, para tentar remover os entraves que dificultam um desenvolvimento emocional saudável.

Desse modo, no retorno presencial dos estudantes a partir do segundo semestre de 2021, realizamos projetos de acolhimento que incluiu práticas dos “Exercícios para Libertação do Trauma (TRE)”, segundo Berceli (2010), o “Projeto de Escuta Sensível” e a “Projeto Gincana do Amor e Solidariedade” com as turmas da escola, e também o atendimento individual dos estudantes e famílias.

Segundo Berceli:

Os músculos do corpo foram projetados para se contrair em tempos de perigo e relaxar em tempos seguros. Durante o perigo, os músculos contraem-se a fim de dobrar o corpo em uma bola, protegendo a região inferior do estomago contra danos ou possível morte. Quando o perigo passa, o corpo está projetado para liberar a tensão muscular em excesso, que foi necessária ser usada durante o episódio traumático. (Berceli 2010, p.45)

Os exercícios para libertação do trauma desenvolvido por Berceli (2010) se constitui em uma sequência de exercícios que tem a finalidade de liberar a tensão acumulada nos músculos durante o período de perigo e traumas, oportunizando a autorregulação através dos tremores neurogênicos, levando o alívio e bem-estar às pessoas. Com esse objetivo realizamos os exercícios com os estudantes, para aliviar o estresse pós-traumático em função da pandemia da COVID-19.

A experiência foi exitosa, pois cada um pode se manifestar sobre as sensações e emoções que emergiram depois da prática realizada. Contudo é importante criar um momento acolhedor e de muito afeto, explicar o passo a passo antes de começarmos os exercícios, para os estudantes compreenderem e se engajarem no processo, inclusive para acolher com empatia as emoções em si e nos colegas.

O “Projeto Escuta Sensível” desenvolvido, objetiva criar e oportunizar espaços de escuta, permitindo que os estudantes possam expressar suas emoções, conflitos, angústias, enfim suas dores emocionais, favorecendo o acolhimento e o encaminhamento das suas demandas emocionais. Assim sendo, utilizamos a dinâmica de grupo que nomeamos de “Objeto da Palavra”. Iniciamos explicando à turma que o colega que estivesse com o “Objeto da Palavra” teria direito a fala e que os demais deveriam ficar escutando com atenção, acolhimento, empatia, sem interferências e julgamentos. Sentados em circulo começamos com uma prática de meditação guiada com exercícios de respiração. Depois fizemos perguntas motivadoras – Como estou me sentido hoje? O que gostaria de manifestar? O que percebo de positivo ou negativo na escola? -, e começamos falando e depois passamos o objeto da palavra aleatoriamente para os estudantes. Inicialmente eles não estavam levando a sério, fizemos algumas intervenções no sentido de lembrá-los dos objetivos do trabalho, mas depois à medida que o trabalho se desenvolveu, os conteúdos emocionais começaram a serem expressos e acolhidos pelo grupo. Concluímos com uma fala integrativa de amorosidade, cuidado uns com os outros e muitos abraços.

O “Projeto Gincana do Amor e Solidariedade” desenvolvido visa estimular o protagonismo, a criatividade, autoexpressão, fortalecer vínculos e solidariedade nos estudantes. Desenvolvemos algumas atividades ao longo de seis meses, tais como: ações solidárias como doação de cesta básica, agasalho e boas práticas que propaguem o amor e a solidariedade entre os estudantes e a comunidade escolar, produção de vídeos (antirracista, antimachista, anti-homofóbica, antibullying), quizz (com perguntas de conhecimento gerais), show de talentos (apresentação de dança, canto, declamação de poesia e outros) e a festa temática do halloween.

Além disso, realizamos diariamente a escuta individual dos estudantes e famílias, e a partir disso, encaminhamos e orientamos muitas famílias buscar atendimento para os estudantes na rede pública e privada. A maioria dos casos foram encaminhados ao Sistema Único de Saúde – SUS, para o setor da saúde mental, solicitando atendimento psicológico e psiquiátrico. Os casos de abuso sexual e violência foram encaminhados ao Conselho Tutelar e Delegacia da Criança e do Adolescente (DECA). Nas situações de violência doméstica contra crianças, adolescentes e mulheres orientamos e encaminhamos para buscar ao auxílio no Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CRES que oferece abrigo para as famílias vítimas de violência. As famílias dos estudantes em situação de vulnerabilidade social muitas foram encaminhadas ao Centro de Referência de Assistência Social – CRAS.

A luta para equacionar os problemas sociais não é fácil, considerando a redução de investimento dos governos na saúde, assistência social e educação, mas é necessária e urgente. Portanto não medimos esforços na luta rumo à superação dos entraves impostos pelo sistema, pois este inviabiliza o desenvolvimento pleno e saudável dos estudantes. Bem como, atuamos na perspectiva de resgatar o papel social da escola na perspectiva progressista, visando à formação de sujeitos saudáveis, autônomos, críticos e atuantes na sociedade, fortalecendo a luta para superação das desigualdades sociais e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária que rompa com o narcisismo e a peste emocional, e resgate a conexão da espécie humana com a natureza e com sua verdadeira self.


REFERÊNCIAS

COSTA, A.; NETO, E.; SOUZA, G. A Proletarização do Professor: Neoliberalismo na Educação. São Paulo: José Luis e Rosa Sudermann, 2009.

BERCELI, D. Exercícios para libertação do trauma. Recife: Libertas, 2010.

LOWEN, A. Narcisismo: a negação do verdadeiro self. São Paulo: Summus, 2021.

LOWEN, A. Medo da vida: caminhos da realização pessoal pela vitória sobre o medo. São Paulo: Summus, 1986.

REICH, W. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

REICH, W.O Assassinato de Cristo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

REICH, W. Psicologia de massas do Fascismo. Porto: Escorpião, 1974.


AUTORA

Katiana Pinto dos Santos / Porto Alegre / RS/ Brasil

Graduada em Licenciatura Ciências, Matemática e Biologia pelo Centro Integrado de Ensino Superior de Alegrete. Especialista em Gestão Escolar pela Universidade Castelo Branco – Inteligência Educacional e Sistema de Ensino; Gestão e Supervisão Educacional com Ênfase em Políticas Públicas, Gestão em Orientação Educacional, Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Portal Faculdades – Porto Alegre/RS. Orientadora e Supervisora da EMEF Professor Anísio Teixeira e Colégio Estadual Inácio Montanha – Porto Alegre/RS. Cursando Especialização em Psicologia Corporal, com habilitação para atuar como Terapeuta Corporal Reichiana // ou // Bioenergética, no Centro Reichiano – Curitiba/PR.

E-mail: katiana.anaitak@gmail.com

ORIENTADORA

Sandra Mara Volpi / Curitiba / PR / Brasil

Psicóloga (CRP-08/5348) formada pela PUC-PR. Analista Bioenergética (CBT) e Supervisora em Análise Bioenergética (IABSP), Especialista em Psicoterapia Infantil (UTP), Psicopedagogia (CEP-Curitiba) e Acupuntura (IBRATE), Mestre em Tecnologia (UTFPR), Diretora do Centro Reichiano, em Curitiba/PR.

E-mail: sandra@centroreichiano.com.br


 
 
 

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